Em algum momento da vida, todos perdem suas almas. Perdemos algumas razões, perdemos a vontade, perdemos as virtudes e a essência. Nos perdemos por meio dessa onda gigante que nos arrasta e nos leva a rumos completamente desconhecidos. Depois que sentimos o vazio e ficamos entorpecidos com o cheiro e o gosto de ópio que escorre por nossas lágrimas obtusas, percebemos o quanto é amargo o vazio, a falta da alma.
Há tempos me sentia sem vida. Há tempos sobrevivia aos dias que permutavam pelas horas sombrias e nuvens escuras que estranhamente só apareciam dentro do meu quarto. Culpava a minha tristeza, culpava minhas dores, culpava as pessoas ao meu redor. Julgava o amor, julgava a vida, julgava as lágrimas e as pedras que apareciam.
Minhas pernas adormeciam pelo medo de nunca mais lidar com as coisas felizes e sobrenaturais. Tremia pelo medo de continuar andando e tropeçar, temia pelo medo de perder aquele que mais amava. Tinha medo de dar os primeiros passos do ano. Não conseguia pensar em nada que me fizesse sair do lugar onde estava e caminhar para a alma, para o fim da solidão.
Sabe, eu cansei. Cansei de esperar palavras doces das pessoas, mesmo sabendo que elas nunca iam chegar. Cansei de esperar amores, pudores, abraços e laços que já tinham se desfeito a muito tempo. Cansei de me renegar tantas vezes por alguém que nunca se renegou por mim. Cansei de viver sem minha alma, sem meu coração.
Hoje clamei pela volta da vida, da minha liberdade. Levantei, olhei para o céu e vi que tinha algo muito além do meu mundo, tinha algo que eu ainda não conhecia. E é engraçado como achamos vida quando realmente queremos enxergar. Achamos um novo amor, uma nova dedicação, um novo começo e novas alegrias. Novos caminhos começam a surgir, minha boca começa a esquecer os velhos gostos e outros tomam o seu lugar.
Meus braços esqueceram os velhos abraços, novos pudores voltaram, o dia ficou mais claro. Vi o sol nascer mais bonito, senti o vento batendo perto das minhas asas invisiveis, dei espaço em meu coração para o amor, um novo amor.
Amores sempre serão amáveis, derrotas sempre serão amargas, perder um amor sempre será dolorido, chorar sempre vai doer, correr sempre vai cansar, viver sempre será uma aprendizagem, cansar será normal, lutar será essencial... Mas, por favor, não perca a sua alma para você mesmo, não deixe o ópio sugar todo o doce mel de uma manhã brilhante ou de uma noite estrelada.
Voltar a vida é um esplendor. A morte da alma é como sugar todo o veneno da flor mais bela. E a escolha meu amigo, é sua.
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