"Lá vem o palhaço! Olha! Que lindo nariz vermelho, que linda maquiagem, que lindo e grande sorriso! Espera... Acho que ele vai fazer uma mágica... NOSSA! Você viu aquilo? O que será que ele irá fazer agora? Queria ser um palhaço também mãe, para alegrar as pessoas... Sabe como é, palhaços são sempre felizes! Como será que eles conseguem sorrir tanto? Que inveja desses dentes brilhantes! Mãe, posso ir até lá pegar um pouquinho dele? Só a parte feliz... Quero pegar o seu sorriso e guardar no meu bolso... Sempre que estiver triste, vou colocá-lo em meus lábios! Poxa mãe... Você demorou muito para deixar, ele está indo embora com o sorriso magnífico! Amanhã ele vai voltar mãe? Ainda vou ser dono daquele sorriso e vou fazer flores nascerem por meu caminho, igualzinho à ele!"
O palhaço é um ser engraçado. Dá sua vida por um sorriso, luta por esperanças, arranca risos onde a alegria não existe. Maqueia-se para esconder o seu ser humano, esconde suas marcas de choro, liberta-se de seus pré-conceitos e cria novos conceitos. Agem como crianças, falam besteiras que não machucam ninguém, não precisam de dinheiro pra sorrir e encontram alegria em uma pequena pedrinha do lado do meio-fio.
O que o ser palhaço esconde? O que essa máscara feliz, e triste ao mesmo tempo quer esconder e revelar?
Ser um palhaço é belo, sublime. Pintar-se e distribuir sorrisos é fácil, afinal, ninguém está te cobrando nada. Pode-se até ser bobo e infantil... O palhaço é ele mesmo, sem rótulos ou medo do outro. Ao pintar-se, o palhaço esconde suas tristezas e angústias e fica mais fácil agir com inocência, voltar a ser quem você era há 20 anos atrás.
Porque a pessoas precisam usar máscaras para libertarem-se de seus medos e voltar à inocência?
"O mundo não permite palhaços, você tem que ser sério e levar tudo com muita seriedade para ser alguém" dizem todos que estão ao nosso lado. Talvez por isso que existam tantas pessoas chorando escondidas, fingindo ser fortes, parecendo com cascas de feridas. Talvez o mudo peça coisas para todos que nós não podemos dar. Lágrimas, fraquezas, perdas, erros, bobeiras... Nada é permitido, tudo é rotulado. Liberdade? Todos prendem-se a esse sonho. Muitos se acham livres, mas não percebem que são enganados por seus medos e anseios de um dia poder enxergar o seu ser liberto. Por isso temos tantos palhaços. Tantos narizes vermelhos tentando encontran-se na multidão.
Vulgo palhaço. Ele também chora. Chora por não podem expor seus medos, suas lágrimas. Chora por sempre animar, dar as mãos, das os ombros e nunca ganhar um afago nas costas. Esconder-se atrás de um nariz talvez seja uma forma de sobreviver. Talvez seja um erro também, por sempre usar máscaras por aí. As vezes nos tornamos palhaços por estarmos muito perto da solidão. Procuramos por máscaras para resgatar a nossa criança interior que clama para sair do canto escuro, mas insistimos em amarrá-la e libertamos os nossos pequenos demônios cheios de medo.
Um dia os palaços vão aparecer em todos os lugares. Estarão nas ruas, nos escritórios, nas despedidas, nas idas, nas vindas, na tristeza e na alegria. Um dia os palhaços não vão precisar de máscaras, pois essa já estará estampada em sua face, sem precisar de tintas. Quando encontrar você mesmo, vai encontrar a liberdade, a paz e a inocênia que precisa.
Quantas máscaras você está usando? Talvez elas não aguentem mais a podridão de sua face e caíam antes que você mesmo perceba. E aí, o que irá sobrar de seus conceitos e respeitos? Nada, você não pode ser nada se não for tudo. E ser tudo, o tudo, só pode ser encontrado em você. Seja o tudo, seja o nada... Mas seja. Chega de poupar o mundo do que você tem de melhor e mais verdadeiro.
"Esconder-se de você mesmo é encontrar-se com uma solidão sem tamanho, sem volta."
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